12.02.2008

Abre portas,
Pernas e comportas
Para o rio de desejo
Que te molha
A roupa
Que te lava
A alma.

Anda!
Deixa no solo
A sua marca.
Faz crescer verdes plantas,
Folhas, falo.
Deixa a palavra
Para o silêncio
Dos meus ais
No teu ventre,
Vento que calo.

Ergue-te sombra,
Sobra, solta,
Meu gemido
No carmim
Da sua boca,
Essa rouca expressão do certo,
Do caminho reto
Entre o sim e a cama.

Ama esse tremer
Do solo ereto,
Esse doidivanas
(De pensamento ladrão).

Anda.
Abre portas,
Pernas e comportas
Para o dengo
Digno clarão
Que te rubra a face,
Força, fenda
Ao despir seu sim
Fantasiado de não.

11.11.2008

Sou como a noite.
Com o sol descanso,
Faço dormir estrelas
E namoro - de forma quente - a lua.

(São Jorge que feche os olhos).

10.08.2008

Foi por aí que perdi a graça
E a farsa de te perder
Descobri como ser malandro,
Poeta, bandido de categoria reles
De fazer trapaça entre o povo e a plebe

Quando sentires falta da cadência esperta
Do seu beijo roubado na festa
Da música que a minha música desperta

Nem olhe para os lados,
Vou estar longe, brilhando com um sorriso maroto
Pelo riso incorporado sem pressa
Na maçã que adorna o seu rosto.

9.12.2008

E fui ao que me invento
Feito sombra, sal, incenso,
Mirra em frente ao sol
Para dourar cheiros
Para dobrar sinos
Para saber menino
Todos os meus bemóis.

Pois sou criança bruta
Com a cidade a brilhar
Para minhas diferenças.
De sonhos, vôos intensos,
A minha imaginação me inventa.

Solto varão da piedade,
Eu sem perdão, sem mar,
Rabisco de um futuro-agora,
Um rei a cantar alegria que esquenta.

Um menino de sol
Um menino de
Um menino
Um!

8.19.2008

PEDRA E MARFIM

Quero ser longe
Da noite um sol
Um brilho rasgando, um ai
Beber na sombra do que te faz
Um arrastão do mar sem fim
Brigar na rua, longe de mim,
Para sorver um pouco de paz

Enlouquecer antes que esqueça
Levar do insano a triste razão
Marcar meu sim na sua cabeça
Matar a sede no seu coração
Quero mais é morrer de paixão
Voar no ato em que o sol pereça.

Lá adiante, me deixe assim
Um anjo torto de pedra e marfim
Enlameado na ruas, afim
Cara valente, rei do botequim
Amor difícil que vive em mim
Em breve seu a divagar

Enlouquecer antes que esqueça
Levar do insano a triste razão
Marcar meu sim na sua cabeça
Matar a sede no seu coração
Quero mais é morrer de paixão
Voar no ato em que o sol pereça.

8.02.2008

Olhando para aquela cara
Sem sinal de expressão alguma...
Retida no tempo,
Sem sombra ou nada que o valha;
O sangue se confunde
Com o vermelho da barba,
E ele continua sorrindo...

Não se sabe bem porque...
Sua loucura parece certa...

Do outro mundo trouxe almas,
Mares e versos.
Da vida levou brumas, flores
E saudades.

Do amor restou-lhe o sangue na face.



Poema publicado na Edição 15 do Blogautores e, a pedido do Breno, a frase em negrito tinha de aparecer em todos os textos. Um desafio lançado em busca do estilo de cada autor, de como se mostrar a partir de uma frase que todos usariam. Sim, tenho saudade dos Blogautores. Estilo não faltava aos meus companheiros.

7.14.2008

AMAR O VENTO

saudade [Do lat. solitate, 'soledade', 'solidão', pelo arc. soydade, suydade, poss. com infl. de saúde.] Substantivo feminino. 1.Lembrança nostálgica e, ao mesmo tempo, suave, de pessoas ou coisas distantes ou extintas, acompanhada do desejo de tornar a vê-las ou possuí-las; nostalgia. (Dicionário Aurélio)

Quando me ensinaram a amar o vento
Esqueceram de me podar as asas,
Olvidaram a lembrança que cravada na pele
Arrepia em mim desejos.

Quando quis amar o vento
Fui dele antes de nele entrar
Pois o vento, como o amor, nos torna parte do todo,
Baila sem música,
Com braços agarrados à pele.

Quando, enfim, amei o vento;
Criei sonhos de levado menino
Esperando de prontidão n'alma
Até que os versos despertem
Numa manhã de fevereiro.

6.16.2008

Assim te digo:

Enquanto olho o céu
Com lua e estrelas
Sei que estas se agitam em fases,
Bem aqui,
Como a iluminar o caminho
Que leva a nós.

E a cada dia,
Hora, minuto,
Te sinto no meu caminho
Como uma rosa
Que se destaca no rosal.

E te encontro,
Encontro a mim,
Que não somos mais que um
Roçando o meu amor no seu amor
Como que a correr o sangue
No meu corpo
Sem deixar o seu.

5.27.2008

Não adianta procurar em mim
O que de ti não sabes.
Se oco, rocha ou sexo
Não é aqui, no meio do nada,
Que respostas surgirão

Anda!
Descobre na água
Esse louco desejo de ser nada,
Ser moita, grotão.
Descobre aí, nesse corpo
Setenta por cento líquido
Que te sobra quando saliva,
Que te escorre quando gozo

Repete seis vezes sessenta
A mesma pergunta
E só aí, no seu meio,
Há a liquefeita solução para nós
Puro concreto

Pó de estrelas ou
Constelação de versos?

5.12.2008

EMBALO

parceria com o grande Adelson Nunes

Era a chuva a embalar
o sonho do vento
que se esvai.

Era idílio de brisa ou furacão,
era mais...

Se espalhou como abraço em noite fria
quem a viu, sabia
Ganhou acreditando no que tinha
por fim, se fez minha

Era a chuva a embalar
o sonho do vento
Era a chuva a molhar
o momento
de quem enfim vinha.

E sorriu, como quem sabe
a contento
do amor que secando ao vento
encontra a morada da sua boca
na minha.

5.06.2008

OFEGANTE CANÇÃO

Agora que encontro a porta aberta
Dos olhos, do corpo, da alma,
Revejo que a mira estava certa
Sem pressa, com calma,
Porém torto, doido, ante a entrega.

Me fez menino abusado
Voyer de tudo que mira em ti.
Pór isso, ao decote levado,
Arrasta meus olhos (castanhos armados),
Afaga o desejo (de ser enlevado),
Arranca o azul (juízo tomado)
Da doce saliva que te quer em mim.

Paro, para ter a certeza,
De que trazes um sim vestido de não.
Encaro calado a nua natureza
A minha preta, ali, deitada no chão:
'És banquete de cama, fogão e mesa'
Mil talheres, mil joguetes de entregue paixão.

No mar que mergulho minha língua
Encontro suas pernas em pleno frisson
Tomamos-nos, como poetas ante a rima,
Ao som dos gemidos, do gozo bom.

Êxtase.

Antes um menino à míngua
Agora ofegante canção.
Deito, como em mim tu deitas (Preta minha)
Depois da entrega, folia, baião.
Antes arfante ventania,
Agora (graças e por ti, Preta) tranqüilo furacão.

4.26.2008

Um olho que diz muito
mentindo em silêncio
diferente de estar mudo
nas noites que invento
salta, dança, dança
uma jam jazz de puro improviso
ela me diz: solto
quando preso me realizo

se você não demorar
eu me entrego e espero
e se você me achar
não nego, te quero

rio de cabeceira secou
e você nem me disse nada
se no monte o mar abalou
a solidão em mim fez água
andou, rodou, rodou
e o que era azul perdeu o juízo
me deixa preso: deixou
solto em frente ao abismo

as vezes parece uma dor
mas teima e deixa em paz
sabendo ser do amor
um sonho todinho lilás
remando na noite escura
como quem nada quer
me rasga a cara e a cintura
e diz ser minha mulher

não demorou quase nada
a espera terminou
não neguei, nem disse nada
pois bem antes você me achou.

4.09.2008

ESTRADEIROS

Do que me disseram do amor,
Fiz quase tudo:
Armei barracos e castelos,
Transformei ventos e brisas,
Costurei saudades e desencontros,
Desembainhei arautos mágicos
Para o meu caminho longo
De olhos tantos e de tantas melancolias.

Fiz o que nem podia
Ou não sabia fazer, já que antes,
Não sabia do amor.

Fiz-me vento e mais
Fiz-me pouco ou nada
Fiz-me falta
Fiz-me mar e rio
E amei, assim como sempre sonhei amar,
Todas as coisas molhadas de sal
E todos os senões possíveis.

Desencadeei o rumo que não tem volta.
Lá, onde o vinho canta todas as canções videiras,
E todos os depois que te pisam os pés.
Quis apenas a felicidade,
A minha,
E a dos estradeiros que
Passearam pelo meu corpo-coração.
O mesmo lugar onde espero reencontrá-los
Para seu repouso de fé e festas.

3.26.2008

Misturo dizeres
Sabores
Ordem amarrada aos pratos
É tomate
É orégano
É olho grande
É desejo
É panela

Um pouco de morena em pó
Para esquentar a receita
E da branquinha
Para esquentar a goela

Misturo sabores
Dizeres
À revelia do olor que salta lá fora
É feijão
É arroz
É bebida que acompanha
É gozo
É espera

Um pouco de astúcia, um nó
Para aquentar a fome
Que revela
Um pouco de drible e sol
Para aquecer de raiva
O que falta, e muito, na espera
Um pouco de vontade, aguda, bemol
Para saborear à mesa
O manjar, o prato que te delicia,
O amor
Aquela.

3.06.2008

Blotumbia

para Paula


Se chegou
sem rodeio
[quando chegou]
e foi tomando seu espaço
pulou cabeça
saltou tempo
não viu braço

e aportou
rasgando dentro
não viu boca
não viu queixo
chegou onde tinha de estar
perto do peito

dançou colado
cantou inteiro
sorriu bonito
beijou direito
[sem rodeio]

me fez livre
companheiro preso
ocupou o que era de direito
formou palavra
pensou alheio
costurou versos
poema e meio

assim, sem rodeio
destino solto
coração centro
onde sempre devia estar
dentro do peito.

3.04.2008

MILAGRES

Os meus milagres são feitos
em tentativas de versos.
A cada dia transformo
pão em pão
e vinho em vinho.

O meu Golias derrubo com palavras.

2.25.2008

PAI

Está certo que escrevi isso faz alguns anos, mas hoje é o aniversário dele, então reafirmo o desejo de que seja domingo...


MEIO SÉCULO

Meio século poderia lhe ser pesado.
Talvez deixá-lo de cama...
Mas não faz.
As sabedorias se contam em anos,
E cinqüenta - número fechado -
Já é conhecimento a contento.
Principalmente para você,
Que me ensina sem palavras:
Dignidade, respeito e amor.

Inventaram ferro elétrico, camisinha de látex e computador,
Você viu tudo.

Aos domingos, quando somos mais felizes,
Jogamos bola, rimos a felicidade dos justos e amamos em silêncio.

Por isso, sempre que me incomodo,
Lembro do meio século que pretendo ver
E fecho os olhos pedindo:
Que seja domingo, que seja domingo, que seja domingo.

2.15.2008

DUAS EM TRÊS

Um pouquinho de prosa.
Não sou bom nisso, mas com minha amiga Renata topo qualquer viagem.


Duas em três. Eram as chances. Daria na mesma se fosse uma em duas? Correu para o ponto de ônibus, mesmo sabendo que não existia nenhum motivo para correr: era um jogo simples e os dois participantes sabiam bem o provável resultado.

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Saiu sem pressa da loja de sapatos. Trabalhava lá fazia poucos meses, mas arranjou uma desculpa qualquer para sair mais cedo. Sempre foi assim. Cativante. Queria chegar bem.

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Primeiro ponto depois do Aterro, o menor e mais escuro. Impossível não achar graça quando da primeira vez que batemos os olhos em algo após sua perfeita descrição. Acrescentaria um adjetivo: limpo. Menor, escuro e limpo, uma ode avessa no meio das pinturas, grafites e luzes viciadas. Sentou-se então. E esperou.

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Incrível como as coisas parecem mais absurdas de perto. E ele era mesmo um abuso no quesito esperança. Na verdade na falta de produção dela. Ele nunca esperou na vida. Por isso era tudo tão estranho.

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Quando era menina, encontrou um retrato em preto e branco da mãe, sentada em um banquinho de tijolos, segurando uma improvável boneca. Mas não sabia que era a mãe, pensou em si mesma. Agora, tinha certeza absoluta que fazia o vinco na bochecha, aquele mesmo vinco de sua mãe, entre o aborrecimento e a espera. Aliás, quem garante mesmo que era a mãe no retrato?

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Uma menina na calçada o fez lembrar dela. Quase tudo ultimamente fazia. Pensou em suas mãos.Pensou em estrelas. Ela o fazia suspirar. Suspirava. – Tudo bem? A menina não respondeu. Essa era a vantagem, ela responderia sem pestanejar. Assim pensou e seguiu.

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Água tônica com bastante gelo e limão. Olhou pela janela de vidro e percebeu que as terças o mundo é bem lento e vazio. Num gole foi o primeiro copo. Encheu o segundo, e lá ficou o gelo a diluir o açúcar da bebida.

Depois do episódio do retrato, esperava os pais sairem para revirar o quarto em busca de outros tesouros. Um dia, na mais alta gaveta, deu-se o encontro com a chave. Bom, o que ela abria, nunca soube, mas a chave continua dentro de uma gaveta, placidamente aguardando seu destino.

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Crianças! Queria quatro. Dois casais. Percebeu que andava mais rápido. Entendeu o motivo. Diminuiu. "Ela vai ficar linda com carinha de brava". Uma mentirinha qualquer sobre o chefe, os colegas novos, ela entenderia e desculparia.

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Mais uma água. Dessa vez, com gás, apenas. Na janela, finalmente!, ele virava a esquina sem pressa alguma. Parou antes de atravessar a rua. Olhou no relógio. Ela, um pequeno sorriso.

Na mesa vazia, o copo transborda de gelo derretido, palitinhos de dente quebrados, pequenos desenhos em forma de estrela, coração e cubo escurecem um canto da toalha de papel.

Recolhendo o dinheiro o Garçom confirma, entediado: - É moço, essa aí que você procura acabou de sair daqui.

1.20.2008

ROSAS DE LUZ

Nessa rua que
Não tem fim
Ensaio caminhar
Sem ter para onde ir
Numa saudade sem refrão
Seguindo as flores do meu sim
Um bem querer no coração
E a primavera sem ter fim

Seguindo o rumo
Sem pensar
Com meu destino de carmim
Roubo as flores pelo ar
Para enfeitar o meu jardim

Pois ter você é ter luar
É caminhar perto de mim
Rosas de luz a clarear
A noite inteira, dentro,
Em mim

Seguindo o rumo
Devagar
A ter você, plena, aqui.
Planto as flores de rimar
Meus versos soltos de jasmim

Pois ter você é ter luar
É caminhar perto de mim
Rosas de luz a clarear
A noite inteira, dentro,
Em mim.

1.08.2008

AZUL

Pois decidi que tudo vai mudar
Vou ser mais forte
Que o santo que carrega no peito
Vou ser perfeito
E pintado de azul
Que é da cor do meu céu.

E com você, meu bem,
Posso ser sombra,
Girassol ao léu,
Ser o que for preciso
Se for mais, insisto,
Em ser anjo ou dragão
Ser seu e inteiro
Pois de azul me sinto
Mais forte que o Santo Guerreiro

Só porque resolvi mudar,
Só porque resolvi ser de você.