7.09.2010

Pelos idos de 2004, ainda no Blogautores, Fernanda pediu que escrevesse uma carta a Tom Jobim em uma das edições. E hoje, 30 anos de morte de Vinicius de Moraes, vejo que a carta também foi para ele.

Ainda ando por cá com saudades.


Salvador, 18 de Junho de 2004


Sabe Tonzinho,
Ao te ver sobrevoando o Rio
Acompanhado de Urubus, Matita-Perês
E Sabiás melodiosos,
Termino por achar o desencanto coisa para loucos.
É sim.
Olha só Ipanema,
A Lagoa, O Jardim Botânico.
Esse desenlace maravilhoso
De ser baiano
E rodar por essa terra de meu Deus.
(É certo, porque o Rio é terra de Deus
E a minha Bahia, lugar de todos os santos)

Olha Tonzinho,
A rua Nascimento e Silva
Me abriu os olhos para o som
(Isso mesmo. Abriu os olhos)
Porque da harmonia brilhavam estrelas,
Da quase falta de voz
Vinha a beleza que saltava aos olhos.
E você estava lá.
(Quanta inveja essa minha.
Mas é da boa. Preocupa não).

E do Vininha, Tonzinho...
Desse sinto tanta falta
Que chega a doer os ossos.
Estranho pensar desse jeito
Em alguém que nunca vi,
Mas se tivesse visto,
Tenho certeza,
Nós três precisaríamos de muita água de beber
(Água de beber camará)

Não repara Tonzinho,
É que falar de amizade,
De gente boa (boa de verdade),
Me enchem os olhos de lágrimas
E a cabeça de versos
(Nem se compara com os de vocês.
Outra preocupação a menos).
Queria ver a Luiza ensaiando um samba
Com a bandeira verde-e-amarela da Gabriela
E, sem saudade do que ficasse para trás,
Ir embora com Dindi.
(Ah! Dindi)

Pena Tonzinho,
Não poder adivinhar o que viria
E você ir morar no céu.
O mesmo de onde começa essa cartinha
Acompanhada dos pássaros que você tanto amou.
Você que sempre foi um brasileiro
Com pompa, circunstância e nome:
Antônio Carlos Brasileiro de Almeida Jobim.
Amigo de data que desconheço,
De sonho de ser além de homem,
Ser Brasil em terra e vida.
Homem de encanto que exala melodias
De promessa de vida no coração.
Tonzinho, ao te ouvir, como sempre o faço,
Tenho certeza de que nunca (Nunca mesmo)
Serei triste a viver na solidão.

Saravá.