12.30.2007
QUERER
E saudade
Faz-se o milagre
De quem sabe o que quer.
E quero o tato,
De fato o toque.
Assim se sente mais,
Se sabe mais.
Sou todo sentido e certeza.
Quero e ponto!
Reticências infindas
Com cheiro de flor.
12.21.2007
VEM
Vamos sair pela rua
Assim como quem nada quer
A redescobrir-nos,
A cobrir o sol que manda
E exala o cheiro guardado da noite,
Feito crianças que somos
Atrapalhando a calçada
Feita para andar de mãos dadas
Feita para o ir e vir
Entre tantos.
Vamos, me segue,
Nessa busca louca do sentir que não vemos,
Dessa queda roxa na palavra que prevemos,
No domingo cheio de bemol
E de beijos.
Sim, me acompanha nessa luta,
Contra os males que nos cobrem a alma e o rosto,
Pois se te quero, agora,
É por estar disposto
A ser mais que um retrato
A apertar o laço
Que nos envolve a boca.
Vamos por onde for
Ser poeta, verso, música e flor,
Ser mais do que nos cobram,
Ser mais que amor com toque de instinto
Porque provamos, na mesma estrada,
Que o querer é menos do que sinto,
Que o rastro é mais que o destino.
Vem,
E juntos acabemos com a aflição
Destas curvas.
Que antes de serem marcas,
Foram histórias, todas as minhas rugas,
E te servirão bem de mapa nos atalhos
Que ainda não enxerga.
Pois sei o que quero, sou mendigo, menino,
Poeta cheio de prosa,
A esperar o dia em que a lua,
Bendita rainha,
Se curve ante as rosas.
12.17.2007
A Rosa
O que há de belo, bela,
É a verdade que não se põe a prova.
Se é assim, sincero,
Nada incomoda.
Sou assim,
Fiel ao que sou,
Ao que posso...
Apenas torço
Para que meus desejos
Sejam mais,
Sejam além,
Sejam seus...
Sejam nossos.
12.11.2007
11.30.2007
Claro que farei certas adaptações ao pedido dela, que é para ser feito assim:
1) Pegue um livro próximo (PRÓXIMO, não procure);
2) Abra na página 161;
3) Procure a 5ª frase completa;
4) Poste essa frase em seu blog;
5) Não escolha a melhor frase nem o melhor livro;
6) Repasse para outros 5 blogueiros.
As minhas adaptações:
O livro que peguei eu nem comecei a ler e o tenho desde maio de 2006, fica lá, em cima da mesa sempre, mas com uma frase do autor, na sua primeira página, que sempre me assusta e me afasta: Não leia agora, aguarde que a solidão tome conta de você.
Agora, que estou a cumprir a ordem de dona Paula, sozinho, como pede o livro, passei por cima da frase e li (mais uma adaptação, o livro é de poesia, portanto, vai mais que a 5ª frase):
Fim dos Tempos
No colo de serenos solilóquios,
os versos guardam-se últimos no peito,
flor da cáctus premida em laço estreito,
estrela fugidia aos telescópios,
nunca-aberto botão de primaveras
giz de nuvem riscando fantasia,
Laura Júlia, contínuas novas eras
varando as estações à revelia,
recém-nascidos riso e olhar dementes,
moribundo clamor do novo Deus,
meu lar, que ao frio hiberna, ao sol estiva.
Eu...aquieto-te stradivariusmente
e aguardo o fim da vida só, com os meus
obnubilados olhos à deriva.
(Temporal temporal, de Luís Antonio Cajazeira Ramos)
A outra adaptação é, não indicarei os amigos, eles o farão à sua vontade.
O pedido de minha melhor amiga está atendido.
11.28.2007
Em São Paulo que se parte
Em imensidões de cinzas...
De outros tempos, outros passos,
Densos rumos e hoje ainda...
São tantas, ela e outras moças,
Colorindo o tempo que não brilha
Trazendo o dia pra bailar a noite
Despedindo-se de suas pistas...
Ela ajeita suas coisas,
Seus bilhetes, suas dores,
Relembra as paixões
Que nem começaram
Já teve um fim...
São tantas, ela e outras moças,
Acordando mais tarde sem neblina
Despedindo-se da voz, da cidade que inclina,
Para outra vez partir.
Ela ajeita suas coisas,
Seus bilhetes, suas dores,
Relembra as paixões
Despede-se entre frases madrugais,
Sonhando o porvir:
O mundo, meu amor,
É um bom lugar para sorrir.
(Parceria com o grande companheiro azul: Clóvis)
11.21.2007
11.12.2007
Balaio morno de fruta do pé
Caída naquele mesmo instante.
Gosto de solavanco
Na beira da estrada
Bem na hora da curva entre a árvore triste
E a cidade dormente.
Sou do tipo sonhador
Temperando tempo com tempo
Para ajustar a esperança
Da cor verde mais próxima do verde esperado
Para ser meio menino, meio anjo...
Para ser torto, na verdade,
Pois anjo torto é o mais perto da verdade
Que um menino pode chegar.
Sou do tipo quieto
Invento dias em nuvens disformes
E elefantes brancos na cabeça.
Carrego no doce da vida
Nada de pitadas a granel
Bom é despencar a mão sem culpa...
Sem esquecer do sal.
Sou do tipo doido
Que aprende a dançar com vassouras
E rodopia feito papel
Na ventania que traz a chuva.
Bailo cambaio distraído
Com pé de vento, com dança da lua
Me remeto em grande saudades
No caminho do céu
Apimento a vida com desejos
E os desejos com os eternos sonhos da paixão.
10.29.2007
10.21.2007
DESCOBRE
Pois dormir fica para depois,
Quero suas pernas nuas
Para atiçar a vista
E afogar a cara por entre elas
Num desejo de chamas.
Deixa aparente
Esse ventre
Deixa a mostra
A boca que me chama
Mesmo com palavras
Que não distingo
Com tremores
Que ferve a cama.
Descobre:
Arrasta a língua no meu falo
Salive todo e tudo
Olhando na minha cara
Sem pressa, razão ou estudo
Saliva-me com gosto
Saliva-me que te chupo
Entre mãos e gemidos,
Assim retribuo sem palavras os seus gritos.
Descobre:
No meu peito arfante sua senha
É entregue
A escrever em rubro
Pelos lábios e entre dentes
Mil frases a te rasgar a pele
Extenuados à sombra da noite
Brindemos em gozo o que nos rege:
Descobridores de sóis e festas
Amantes da lua em raios: entregue.
Descobre.
10.07.2007
Eu tenho flores valentes
Na lapela amarrotada
Eu tenho a coragem de vir
Diante do desabamento
E dos meus pulmões expelir:
Venha!
Venha ver as coisas belas!
Eu tenho cheiros amargos
No meu corpo já cansado
Eu tenho o amor gentil
Mesmo que já aviltado
E dos meus pulmões imploro:
Venha!
Venha ver as coisas belas!
E não canso de ser assim
Um boêmio de noites encantadas
Cheio de saudades dos nortes
Carregando meus poros delas
Do peito imploro, rogo
Não perco a chance de estar nela:
Amada, presente, sonhada, distante
Todas eu vi
Além, vivi!
Todas, todas as coisas belas.
9.27.2007
TRÊS VEZES TANTO OU SÓ QUARESMA, TRIANGULADO
(para Paulinha e Rafa)
Três vezes toma ao peito
E me torna
Essa doce chaga
Que chamamos amizade
A tomar e tornar
Versos.
Palavras encharcadas de
Álcool e chamas
Numa pintura triangular
Com asas, véus e estrelas.
Eu, inocente rodeio,
De vinhos e portos
Misturo vértices
Vértebras,
Saudades.
Poeta a procura
De salmos.
Três vezes toma o peito
E entorna nossas diferenças.
Três vivas a ela:
A amiga diferença!
9.22.2007
LENÇÓIS
Se coloco
Meus lençóis
No pequeno varal
Do amor
É para que sequem
Ao vento
Ou
Que molhem
Na brisa
Orvalhada
Da madrugada
Se coloco
Minhas pernas
Nas suas brancas
Pernas
É para que enlouqueçam
A matemática
E nos lençóis lavados
De duas
Virem quatro
Mágicas
Loucuras deslavadas
De pernas que teimam
Raras
Entrelaçadas
Sorrindo a teimosia
Da água
Do banho
Da cama
Pois poeta
Ama
O amor, o lençol,
A água,
E desanda matemáticas
Brancas
E doces quatro
Pernas que amam.
9.15.2007
ROSA ANTIGO
Sempre esquecia algo.
Era forte.
Tinha amor.
E deu para ter desejos estranhos.
Ele que não fumava saiu
Para comprar cigarros
E voltou.
Pensou séculos na Pequena
(era assim que ele a sonhava)
E ela estava ali.
De volta.
E ele com cigarros nas mãos.
De volta.
Tanto ele fez, tanto esperou. Noites secas de insônia e mal-estar, quantas. Voltara a fumar. Nas tardes de domingo, nulas, vazias, acendia um cigarro e acariciava, idiota, uma foto que carregava sempre consigo. Acariciava o papel. Ouvia Ella Fitzgerald. Tornava a fumar. De quando em quando, uma lágrima. Suspirava fundo, fundo. Uma dor sem nome.
(Mas como doía...!)
Contava o tempo, olhando o retrato. Planejava. Abandonava. Fugia. Pensava. Cansava. Olhos verdes na foto, bem verdes. E aquela cor de blusa, aquele rosado esquisito. Tão bem nela, na pele pálida. Ela mesma: lábios fininhos, nariz pequeno, olhos de samambaia. Rosada. Meu bebê. Mon coeur. Mon amour.
Dizia baixinho, só para o retrato ouvir: volte, meu bem, volte logo. Não demora, criança. Volta pra mim. Como uma evocação. Bobo de dor.
O calendário não mentia. Já era hora, já era hora dela voltar. Mas não voltava. Ele, de portas abertas. Ela, nada. Não vinha. Não vinha. Não vinha. Viria? Dúvidas, tristezas enormes. E se nunca mais? Era possível. Mas, seria mesmo possível? Não. Negava. Fechava os olhos. Não, e outro cigarro.
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Daí que um dia ela apareceu diante dele assim, de surpresa, como brotada do chão, vestida de rosa e sorrindo, vermelhinhas as bochechas, com um chocolate numa mão e vinte reais na outra. Sem mistérios. Dizendo: vamos ali comigo, quero que conheça uma coisa. Ele foi. Mudo, transfigurado, bêbado, taquicardíaco.
Era uma sorveteria. Pediu, charmosa que só, sorvetes de rosas. Ele, por sua vez, navegava em torno dela. Ela, ela, ela. Ela feliz, criança que mostra um brinquedo novo e fantástico ao adulto. Aguardando que ele provasse o sorvete. Ele provou, e gostou. Ela riu e deixou ver um pedacinho da gengiva. Até parecia que nunca havia existido um hiato entre os dias, entre eles, no meio da vida.
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Voltara. E o cheiro
era de flor, de flor,
de flor.
Tépido e tonto
arranjo de paixão.
...
9.13.2007
Me solta
Pois há um seguir
Que me chama
Há um sonhar
Que me adere
Há um sentir
Que me clama
Há um queimar
Que me doura a pele
Ser só de calma
E chama
Ser só espanto
Para quem ama
Ser só sussurro
Encanto
Vento.
Se é só vento que me clama
Me prende
Pois há verdade
Além da lama
Pois há sentido
No lamento
Pois há saudade
Após a cama
Brisa, sopro
Vento
Ser só de chama
E calma
Além do amor
Para quem ama
Ser só grito
Calma
Tempo.
9.11.2007
9.10.2007
9.09.2007
Gruda minhas paixões
Aquelas mesmas que me pegam de jeito
Que me mudam o rumo
Que me partem
Se partem
Ficam
Vão
(de ir embora,
o verbo que se vai,
nunca é aquele
que não vale a pena).
A minha poesia
Se rende sempre ao todo
Do meu jeito fácil
De me apegar
Apaixonar
Correr
Lutar
E voltar atrás
E voltar
Voltar...
Pois sou assim
Aquele que se apaixona.
A minha poesia
Esquece os trancos
Barrancos
Se entrega ante a minha entrega,
À minha entrega
Cola na pele
Rasga
Conserta
Enxerta
Salta.
A minha poesia teima
Em ser assim
Sem revisão
Com sobras
Sem tempo
Com desleixo
Sem fuga
Com jeito
A minha poesia
Fala demais
Prolixa!
Mesmo quando (nesse segundo)
Só queria falar de saudade.