Sempre esquecia algo.
Era forte.
Tinha amor.
E deu para ter desejos estranhos.
Ele que não fumava saiu
Para comprar cigarros
E voltou.
Pensou séculos na Pequena
(era assim que ele a sonhava)
E ela estava ali.
De volta.
E ele com cigarros nas mãos.
O cheiro era de flor, de flor, de flor. Tépido e tonto, arranjo de paixão. Arrepios, suores. A fumaça do cigarro subia calma, saía pela janela, o dia lindo e tão azul, borboletas de ouro e cobre voejando, o mundo em sua estranha normalidade. Tudo em seu lugar, ele diria. Inclusive ela, na cama ao lado dele. Tudo em seu devido lugar.
De volta.
Tanto ele fez, tanto esperou. Noites secas de insônia e mal-estar, quantas. Voltara a fumar. Nas tardes de domingo, nulas, vazias, acendia um cigarro e acariciava, idiota, uma foto que carregava sempre consigo. Acariciava o papel. Ouvia Ella Fitzgerald. Tornava a fumar. De quando em quando, uma lágrima. Suspirava fundo, fundo. Uma dor sem nome.
(Mas como doía...!)
Contava o tempo, olhando o retrato. Planejava. Abandonava. Fugia. Pensava. Cansava. Olhos verdes na foto, bem verdes. E aquela cor de blusa, aquele rosado esquisito. Tão bem nela, na pele pálida. Ela mesma: lábios fininhos, nariz pequeno, olhos de samambaia. Rosada. Meu bebê. Mon coeur. Mon amour.
Dizia baixinho, só para o retrato ouvir: volte, meu bem, volte logo. Não demora, criança. Volta pra mim. Como uma evocação. Bobo de dor.
O calendário não mentia. Já era hora, já era hora dela voltar. Mas não voltava. Ele, de portas abertas. Ela, nada. Não vinha. Não vinha. Não vinha. Viria? Dúvidas, tristezas enormes. E se nunca mais? Era possível. Mas, seria mesmo possível? Não. Negava. Fechava os olhos. Não, e outro cigarro.
......................................................................................................................................................................
Daí que um dia ela apareceu diante dele assim, de surpresa, como brotada do chão, vestida de rosa e sorrindo, vermelhinhas as bochechas, com um chocolate numa mão e vinte reais na outra. Sem mistérios. Dizendo: vamos ali comigo, quero que conheça uma coisa. Ele foi. Mudo, transfigurado, bêbado, taquicardíaco.
Era uma sorveteria. Pediu, charmosa que só, sorvetes de rosas. Ele, por sua vez, navegava em torno dela. Ela, ela, ela. Ela feliz, criança que mostra um brinquedo novo e fantástico ao adulto. Aguardando que ele provasse o sorvete. Ele provou, e gostou. Ela riu e deixou ver um pedacinho da gengiva. Até parecia que nunca havia existido um hiato entre os dias, entre eles, no meio da vida.
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Voltara. E o cheiro
era de flor, de flor,
de flor.
Tépido e tonto
arranjo de paixão.
...
De volta.
Tanto ele fez, tanto esperou. Noites secas de insônia e mal-estar, quantas. Voltara a fumar. Nas tardes de domingo, nulas, vazias, acendia um cigarro e acariciava, idiota, uma foto que carregava sempre consigo. Acariciava o papel. Ouvia Ella Fitzgerald. Tornava a fumar. De quando em quando, uma lágrima. Suspirava fundo, fundo. Uma dor sem nome.
(Mas como doía...!)
Contava o tempo, olhando o retrato. Planejava. Abandonava. Fugia. Pensava. Cansava. Olhos verdes na foto, bem verdes. E aquela cor de blusa, aquele rosado esquisito. Tão bem nela, na pele pálida. Ela mesma: lábios fininhos, nariz pequeno, olhos de samambaia. Rosada. Meu bebê. Mon coeur. Mon amour.
Dizia baixinho, só para o retrato ouvir: volte, meu bem, volte logo. Não demora, criança. Volta pra mim. Como uma evocação. Bobo de dor.
O calendário não mentia. Já era hora, já era hora dela voltar. Mas não voltava. Ele, de portas abertas. Ela, nada. Não vinha. Não vinha. Não vinha. Viria? Dúvidas, tristezas enormes. E se nunca mais? Era possível. Mas, seria mesmo possível? Não. Negava. Fechava os olhos. Não, e outro cigarro.
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Daí que um dia ela apareceu diante dele assim, de surpresa, como brotada do chão, vestida de rosa e sorrindo, vermelhinhas as bochechas, com um chocolate numa mão e vinte reais na outra. Sem mistérios. Dizendo: vamos ali comigo, quero que conheça uma coisa. Ele foi. Mudo, transfigurado, bêbado, taquicardíaco.
Era uma sorveteria. Pediu, charmosa que só, sorvetes de rosas. Ele, por sua vez, navegava em torno dela. Ela, ela, ela. Ela feliz, criança que mostra um brinquedo novo e fantástico ao adulto. Aguardando que ele provasse o sorvete. Ele provou, e gostou. Ela riu e deixou ver um pedacinho da gengiva. Até parecia que nunca havia existido um hiato entre os dias, entre eles, no meio da vida.
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Voltara. E o cheiro
era de flor, de flor,
de flor.
Tépido e tonto
arranjo de paixão.
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5 comentários:
:)
Maravilha, Beanes.
O poema é de uma vastidão de beleza imensurável...
Li e reli, e guardei cá dentro, comigo.
O texto é lindo, sensível, florido.
Muito bom, poeta.
Abraços-azuis.
PQP.
Arrepiou a pele, os poros, os pêlos.
Porque nas sutilezas do amor,
a força retumbante dos sentidos.
Cara de bobo e um pedacinho de mar,
teimando no canto dos olhos que voltaram a ter aquele tom antigo.
Poruqe é prá ser.
LINDOOOOOOO.
***Estrelas***
tão bonito que me deixou meio tonto...
...e uma saudade de estar apaixonado.
Moca
há tanto não lia marpessa... dona das palavras, acabei de me lembrar! lindo, rabuja, adorei. deu vontade de ter mais e mais para ler. beijos!
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