9.27.2007

TRÊS VEZES TANTO OU SÓ QUARESMA, TRIANGULADO


(para Paulinha e Rafa)

Três vezes toma ao peito
E me torna
Essa doce chaga
Que chamamos amizade
A tomar e tornar
Versos.

Palavras encharcadas de
Álcool e chamas
Numa pintura triangular
Com asas, véus e estrelas.

Eu, inocente rodeio,
De vinhos e portos
Misturo vértices
Vértebras,
Saudades.
Poeta a procura
De salmos.

Três vezes toma o peito
E entorna nossas diferenças.

Três vivas a ela:
A amiga diferença!

9.22.2007

LENÇÓIS

A minha amiga estrela Renata Correa numa parceria em versos. Um absurdo essa menina.


Se coloco
Meus lençóis
No pequeno varal
Do amor
É para que sequem
Ao vento
Ou
Que molhem
Na brisa
Orvalhada
Da madrugada
Se coloco
Minhas pernas
Nas suas brancas
Pernas
É para que enlouqueçam
A matemática
E nos lençóis lavados
De duas
Virem quatro
Mágicas
Loucuras deslavadas
De pernas que teimam
Raras
Entrelaçadas
Sorrindo a teimosia
Da água
Do banho
Da cama
Pois poeta
Ama
O amor, o lençol,
A água,
E desanda matemáticas
Brancas
E doces quatro
Pernas que amam.

9.15.2007

ROSA ANTIGO

parceria com o talento puro Marpessa de Castro


Sempre esquecia algo.
Era forte.
Tinha amor.
E deu para ter desejos estranhos.
Ele que não fumava saiu
Para comprar cigarros
E voltou.

Pensou séculos na Pequena
(era assim que ele a sonhava)
E ela estava ali.
De volta.
E ele com cigarros nas mãos.



O cheiro era de flor, de flor, de flor. Tépido e tonto, arranjo de paixão. Arrepios, suores. A fumaça do cigarro subia calma, saía pela janela, o dia lindo e tão azul, borboletas de ouro e cobre voejando, o mundo em sua estranha normalidade. Tudo em seu lugar, ele diria. Inclusive ela, na cama ao lado dele. Tudo em seu devido lugar.
De volta.
Tanto ele fez, tanto esperou. Noites secas de insônia e mal-estar, quantas. Voltara a fumar. Nas tardes de domingo, nulas, vazias, acendia um cigarro e acariciava, idiota, uma foto que carregava sempre consigo. Acariciava o papel. Ouvia Ella Fitzgerald. Tornava a fumar. De quando em quando, uma lágrima. Suspirava fundo, fundo. Uma dor sem nome.
(Mas como doía...!)
Contava o tempo, olhando o retrato. Planejava. Abandonava. Fugia. Pensava. Cansava. Olhos verdes na foto, bem verdes. E aquela cor de blusa, aquele rosado esquisito. Tão bem nela, na pele pálida. Ela mesma: lábios fininhos, nariz pequeno, olhos de samambaia. Rosada. Meu bebê. Mon coeur. Mon amour.
Dizia baixinho, só para o retrato ouvir: volte, meu bem, volte logo. Não demora, criança. Volta pra mim. Como uma evocação. Bobo de dor.
O calendário não mentia. Já era hora, já era hora dela voltar. Mas não voltava. Ele, de portas abertas. Ela, nada. Não vinha. Não vinha. Não vinha. Viria? Dúvidas, tristezas enormes. E se nunca mais? Era possível. Mas, seria mesmo possível? Não. Negava. Fechava os olhos. Não, e outro cigarro.

......................................................................................................................................................................

Daí que um dia ela apareceu diante dele assim, de surpresa, como brotada do chão, vestida de rosa e sorrindo, vermelhinhas as bochechas, com um chocolate numa mão e vinte reais na outra. Sem mistérios. Dizendo: vamos ali comigo, quero que conheça uma coisa. Ele foi. Mudo, transfigurado, bêbado, taquicardíaco.
Era uma sorveteria. Pediu, charmosa que só, sorvetes de rosas. Ele, por sua vez, navegava em torno dela. Ela, ela, ela. Ela feliz, criança que mostra um brinquedo novo e fantástico ao adulto. Aguardando que ele provasse o sorvete. Ele provou, e gostou. Ela riu e deixou ver um pedacinho da gengiva. Até parecia que nunca havia existido um hiato entre os dias, entre eles, no meio da vida.

........................................................................................................................................................................................................

Voltara. E o cheiro
era de flor, de flor,
de flor.
Tépido e tonto
arranjo de paixão.

...

9.13.2007

Se é de calma ou vento
Me solta
Pois há um seguir
Que me chama
Há um sonhar
Que me adere
Há um sentir
Que me clama
Há um queimar
Que me doura a pele

Ser só de calma
E chama
Ser só espanto
Para quem ama
Ser só sussurro
Encanto
Vento.

Se é só vento que me clama
Me prende
Pois há verdade
Além da lama
Pois há sentido
No lamento
Pois há saudade
Após a cama
Brisa, sopro
Vento

Ser só de chama
E calma
Além do amor
Para quem ama
Ser só grito
Calma
Tempo.

9.11.2007

Desconstruo o reto
Faço curvas
Rechaço
Desmonto
Despenco

Ante a luta
Relaxo
Perplexo.
Só salvo a mim.
Você, só se quiser.

Desconfortável
Felicidade
E agonia.

Sou azul
Arremedo de sangue.

Sou seu.

9.10.2007

9.09.2007

A minha poesia
Gruda minhas paixões
Aquelas mesmas que me pegam de jeito
Que me mudam o rumo
Que me partem
Se partem
Ficam
Vão
(de ir embora,
o verbo que se vai,
nunca é aquele
que não vale a pena).

A minha poesia
Se rende sempre ao todo
Do meu jeito fácil
De me apegar
Apaixonar
Correr
Lutar
E voltar atrás
E voltar
Voltar...
Pois sou assim
Aquele que se apaixona.

A minha poesia
Esquece os trancos
Barrancos
Se entrega ante a minha entrega,
À minha entrega
Cola na pele
Rasga
Conserta
Enxerta
Salta.

A minha poesia teima
Em ser assim
Sem revisão
Com sobras
Sem tempo
Com desleixo
Sem fuga
Com jeito

A minha poesia
Fala demais
Prolixa!
Mesmo quando (nesse segundo)
Só queria falar de saudade.