5.27.2008

Não adianta procurar em mim
O que de ti não sabes.
Se oco, rocha ou sexo
Não é aqui, no meio do nada,
Que respostas surgirão

Anda!
Descobre na água
Esse louco desejo de ser nada,
Ser moita, grotão.
Descobre aí, nesse corpo
Setenta por cento líquido
Que te sobra quando saliva,
Que te escorre quando gozo

Repete seis vezes sessenta
A mesma pergunta
E só aí, no seu meio,
Há a liquefeita solução para nós
Puro concreto

Pó de estrelas ou
Constelação de versos?

5.12.2008

EMBALO

parceria com o grande Adelson Nunes

Era a chuva a embalar
o sonho do vento
que se esvai.

Era idílio de brisa ou furacão,
era mais...

Se espalhou como abraço em noite fria
quem a viu, sabia
Ganhou acreditando no que tinha
por fim, se fez minha

Era a chuva a embalar
o sonho do vento
Era a chuva a molhar
o momento
de quem enfim vinha.

E sorriu, como quem sabe
a contento
do amor que secando ao vento
encontra a morada da sua boca
na minha.

5.06.2008

OFEGANTE CANÇÃO

Agora que encontro a porta aberta
Dos olhos, do corpo, da alma,
Revejo que a mira estava certa
Sem pressa, com calma,
Porém torto, doido, ante a entrega.

Me fez menino abusado
Voyer de tudo que mira em ti.
Pór isso, ao decote levado,
Arrasta meus olhos (castanhos armados),
Afaga o desejo (de ser enlevado),
Arranca o azul (juízo tomado)
Da doce saliva que te quer em mim.

Paro, para ter a certeza,
De que trazes um sim vestido de não.
Encaro calado a nua natureza
A minha preta, ali, deitada no chão:
'És banquete de cama, fogão e mesa'
Mil talheres, mil joguetes de entregue paixão.

No mar que mergulho minha língua
Encontro suas pernas em pleno frisson
Tomamos-nos, como poetas ante a rima,
Ao som dos gemidos, do gozo bom.

Êxtase.

Antes um menino à míngua
Agora ofegante canção.
Deito, como em mim tu deitas (Preta minha)
Depois da entrega, folia, baião.
Antes arfante ventania,
Agora (graças e por ti, Preta) tranqüilo furacão.